Rosh Hashaná
é um paradoxo. De certo modo é celebrada como um dia de festa: comidas
especiais são servidas em meio a grandes reuniões familiares e estendemos
cumprimentos alegres desejando a todos ao nosso redor um ano bom e doce. Os
pecados não são nem mencionados durante as rezas de Rosh Hashaná para não
diminuir o nosso foco positivo e ofuscar nossa alegria neste dia.
Examinemos
uma questão mais geral: quais são as alegrias em qualquer ocasião? Qual a razão
pela alegria nos evento do ciclo de vida judaico? Um bebê nasce e oito dias
depois é circuncidado. O bebê grita por alguns momentos enquanto os
participantes desejam para os pais, alegremente, ‘Mazal Tov’! Então se sentam e
desfrutam de uma bela refeição. Por que as pessoas celebram enquanto o bebê
sofre?
Agora
considere a criança celebrando seu Bar Mitsvá treze anos depois. O jovem é
chamado para ler na Torá e seu pai recita uma estranha bênção: “Abençoado é
aquele (D’us) que me liberou das obrigações deste jovem”. Os pais parecem estar
‘lavando suas mãos’ das responsabilidades de seu jovem adolescente. A pobre
criança parece estar por sua própria conta, mas todos alegremente lhe desejam
Mazal Tov. Parece tão frio. Como as pessoas se alegram numa situação
aparentemente assustadora?
Anos depois,
um jovem casal está sob a chupá, prontos para casar. Eles se comprometem um com
o outro para toda a vida, sacrificando as liberdades da vida de solteiro. Deve
ser tão amedrontador, mas todos celebram! Qual o significado por trás da
alegria?
O
denominador comum dessas ocasiões é a aceitação
da responsabilidade. Em cada um destes eventos, os indivíduos estão parados
na frente de uma porta que se abre para uma identidade pessoal mais rica e
complexa.
A
circuncisão marca o primeiro passo do menino judeu para receber o fardo da
responsabilidade inerente à santidade de ser um judeu. No Bar Mitsvá, o garoto
aceita a responsabilidade de cumprir os mandamentos da Torá. Ele chegou num
novo estágio de sua vida, que oferece mais oportunidades, satisfações mais
profundas, maiores obrigações e, potenciais armadilhas. Na chupá, o noivo e a
noiva aceitam a responsabilidade de seu novo status, pela nova entidade que se
tornaram e pela nova família que almejam criar. Os Judeus celebram a aceitação
da responsabilidade.
O ser humano
não foi criado meramente para viver. Ele foi criado para um propósito mais
elevado. Somente quando ele sente que está trabalhando em direção a uma meta
maior é que atinge sua satisfação interior. A verdadeira alegria vem de aceitar
as responsabilidades que cada pessoa recebeu de D’us.
Este é o
significado do paradoxo de Rosh Hashaná. É o dia que D’us reconta cada boa
ação, cada falha, o dia que somos julgados por todas as nossas atitudes. Somos
lembrados que cada um de nós é responsável por suas ações.
Podemos
estar temerosos das possíveis consequências do julgamento, se o levarmos a
sério. Entretanto, o outro lado da mesma moeda: a aceitação de responsabilidade
traz grande alegria. Constatamos que existe significado em nossas vidas e este
reconhecimento é uma tremenda fonte de prazer. A alegria de Rosh Hashaná reside
no reconhecimento do potencial humano e o constante esforço em atingir metas
mais elevadas.