Desemprego
entre brasileiros de 18 a 24 anos foi de quase 29% no 1º trimestre, acima da
média geral, de 13,7%; na crise, empresas priorizam experiência na contratação,
dizem analistas.
João, Stefani e Thaís estão na faixa
dos 20 anos, terminaram a faculdade há pouco tempo e ainda não encontraram
trabalho na sua área de formação. O desemprego, que atingiu 13,7% da população
economicamente ativa no primeiro trimestre, é maior entre os jovens.
Chega 28,8% para brasileiros entre 18 e 24 anos. Em maio, a taxa de desemprego mas
não há informações mais atualizadas sobre a taxa entre os jovens. De qualquer
forma, com menos vagas disponíveis por causa da crise política e econômica no
país, os três recém-formados buscam alternativas para não ficar parados.
João Vitor
Suyama, de 22 anos, concluiu a graduação em relações públicas pela Fundação
Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) em julho de 2016 e não está
trabalhando na área. Ele era estagiário em uma agência de comunicação, mas não
foi efetivado depois de terminar o curso
Depois de
procurar emprego por oito meses e ser chamado para cinco entrevistas, ele
desistiu da iniciativa privada e resolveu apostar em concursos públicos.
“No momento está bem difícil para conseguir emprego. O concurso foi uma
influência da minha família porque a minha irmã é servidora pública. Nesse
momento de dificuldade resolvi estudar porque a vaga pública parece mais
garantida do que procurar emprego”, afirma Suyama.
Desde março
deste ano sua rotina inclui sete horas diárias de estudo para a prova de que
será aplicada em 2 de julho. O cargo exige nível médio, e oferece salário de R$
4,4 mil.
Além do serviço
público, João pretende se inscrever, novamente, nos programas de trainees que
vão acontecer no segundo semestre deste ano.
Sem
efetivação
Depois de dois
anos de estágio em uma multinacional de indústria química, Thaís Lourenço
Thomaz, de 24 anos, também não foi efetivada ao concluir a graduação em
publicidade e propaganda com ênfase em marketing, pelo Mackenzie, em junho
deste ano.
Thaís soube que
não seria efetivada em março e já começou a procurar uma vaga efetiva. Ela se
inscreveu para mais de 50 vagas e até agora só foi chamada para uma entrevista,
indicação de uma amiga.
“Estou sentindo muita dificuldade por causa da crise, e as empresas
também cobram experiência para quem acabou de se formar. São poucas pessoas da
minha sala da faculdade que têm situações definidas. Bate um desespero”,
confessa a jovem.
Agora, ela
pretende ir diretamente nas empresas para entregar seu currículo impresso e
também se inscrever nos programas de trainee do próximo semestre.
Mestrado
como opção
Aos 22 anos, a
biomédica Stefani Lino Cardim apostou em um mestrado em fisiologia clínica e
laboratorial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) depois de sair da
faculdade, há 1 ano e meio. Ela procurou emprego por quatro meses e logo
percebeu como seria difícil entrar no mercado de trabalho.
“Sempre quis fazer o mestrado, mas sei que ele veio em uma boa hora
considerando o mercado de trabalho”, afirma.
Pensando no
futuro e no bebê que está a caminho, Stefani pretende seguir para o doutorado
para só depois procurar uma vaga de emprego. “Estou pensando na minha
qualificação e como o mercado está cada vez mais exigente pensei em seguir esse
caminho e também vou poder fazer concurso público”, ressalta.
Mercado
de trabalho
Segundo
especialistas ouvidos pelo G1,
o mercado de trabalho brasileiro vive um momento instável por causas das
turbulências políticas e econômicas. Em abril, o país registrou segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os jovens
acabam sofrendo mais com essa situação porque as empresas não querem arriscar
neste momento e dão preferência por profissionais com mais experiência,
explicam os especialistas em carreiras. A visão de quem contrata é que eles
poderão contribuir mais durante o período de crise.
“As empresas deixaram muitos
projetos parados, esperando um direcionamento sobre o futuro da economia.
Quando você tem uma economia mais estagnada, as companhias tentam não correr
riscos e isso resulta em um menor número de posições no mercado”, observa
Gustavo Parise, diretor executivo da área de Futurestep da Korn Ferry.
Para Raphael Falcão, diretor da Hays
Response e Hays Experts, as empresas não pararam de contratar, mas reduziram o
número e o ritmo. “Se antes existia um programa que contratava 100
profissionais, agora isso virou 80 ou 60”, completa.
“A economia
está tentando reaquecer, mas o momento ainda é difícil quando se fala em oferta
e demanda de emprego”, afirma Márcia Almström, diretora de RH do ManpowerGroup.
Segundo os
especialistas, não é possível determinar quais áreas estão com menos
oportunidades, pois a crise afetou diversos setores. Mas, as áreas mais
generalistas como administração e economia acabam sendo mais ‘curingas’ e os
profissionais têm mais chances no mercado. “Esses profissionais conseguem
transitar mais por diferentes áreas”, diz Parise.
Carreira
Apesar de
milhares de pessoas buscarem emprego, para ocupar posições que
exigem competências técnicas, segundo a pesquisa “Escassez de Talentos” do
ManpowerGroup.
Os técnicos são
os cargos mais difíceis de preencher, seguidos por apoio aos serviços de
escritório, operadores de produção/máquinas e negócios especializados.
“No passado, era possível ter mais clareza que uma trajetória de estudo
teria como consequência um emprego, mas hoje isso está um pouco diferente. As
áreas de maior escassez de profissionais não estão obrigatoriamente vinculadas
a cursos superiores”, ressalta Márcia.
Falcão também
ressalta a formação técnica e a fluência em um idioma como um fator de
empregabilidade. “Às vezes, o jovem pode se formar em um curso técnico em uma
área que faltam pessoas qualificadas e se inserir no mercado”, diz.
Segundo Márcia,
o curso técnico pode ser uma boa forma de o jovem vivenciar a prática da área
para saber se ele se identifica com a carreira para depois partir para a
faculdade. “Os jovens estão numa faixa etária na carreira e na vida em que o
técnico pode ajudar e clarear sobre a trajetória de maior interesse”.
O
empreendedorismo e até mesmo o concurso público aparecem como opção para os
jovens que não estão encontrando espaço no mercado de trabalho. “Vejo muitos
jovens buscando como saída empreender, principalmente em tecnologia, com algum
know how específico”, lembra Falcão.
A grande dica
dos especialistas é que o jovem escolha uma área que goste e que tenha
motivação para atuar para manter seu interesse e ter uma boa performance. “É
importante ter cuidado com os modismos e não pensar só nas profissões que vão dar
mais dinheiro. Ele tem que entender com o que tem mais sinergia e onde vai
trazer mais valor”, completa Parise.
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