sexta-feira, 22 de março de 2019

Pressão social para a mulher ser mãe




 Aos 38 anos, uma mulher reflete obsessivamente: afinal, deseja ou não um bebê? A dúvida é o tema central de “Maternidade”, livro da escritora canadense Sheila Heti, que acaba de ser confirmada como atração da próxima Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Com Euclides da Cunha de homenageado e convidados como Kristen Roupenian, Walnice Nogueira Galvão e Kalaf Epalanga, o evento acontece de 10 a 14 de julho.

Lançado agora no Brasil pela Companhia das Letras, “Maternidade” acrescenta um ponto de vista racional à questão, frequentemente marcada por forte carga emocional e cultural.

— Decidir não ter um filho é uma escolha tão positiva quanto a de ter um filho — pondera a autora de 42 anos, que já escreveu oito livros e não tem filhos.

Por e-mail, Sheila falou sobre diferentes aspectos da maternidade, condenou a chamada maternidade compulsória, um tema acalorado Ocidente afora graças ao escrutínio de gerações de feministas, e preferiu não comentar a própria experiência.

Em seu livro, questiona: “Viver de um jeito não é uma crítica a todos os outros jeitos de viver. Será que é essa a ameaça que a mulher sem filhos apresenta?”

A protagonista de “Maternidade” é consumida pela dúvida entre ser mãe ou não. Essa questão deveria ser tão central na vida das mulheres?

Eu não diria que deve ser, nem que não deve. O que eu queria olhar é o que acontece quando alguém tenta responder a essa pergunta de maneira aprofundada, com a questão no centro de seu campo de visão. Os grandes temas da nossa vida — nosso trabalho, a cidade em que vivemos, quem se torna nosso parceiro, de quem nos separamos — têm suas dinâmicas, acontecem conosco ou fazemos nossas escolhas inconscientemente.


É possível que essa decisão seja puramente racional?

Eu queria ver que pensamentos surgiriam se este fosse um assunto de real consideração intelectual. Não vi isso antes na literatura. Esses pensamentos são muitas vezes circulares e confusos. Deve ser a questão mais importante da vida da mulher? Não. Mas deveria ser levada a sério a possibilidade de que não é preciso ter filhos para se ter uma vida gratificante? Sim.

Ao problematizar sua tendência a rejeitar a maternidade, a personagem chega a recorrer ao “I-ching” para se decidir.

'Não tem como explicar para outra pessoa o que é a maternidade', diz Karine Teles, de 'Benzinho'
Ela lança moedas para obter um “sim” ou um “não”, recorre ao tarô, conversa com um médium na rua... Volta-se para todos esses dispositivos místicos e aleatórios, porque acho que é o que muitos de nós fazemos quando confrontados com um futuro misterioso ou um dilema insolúvel. É claro que ela não confia completamente em nada disso. Mas há uma parte arcaica dela que procura por sinais e símbolos no mundo. Precisa disso, porque as mulheres que realmente não querem filhos ouvem que estão erradas, que não deveriam confiar em si mesmas.

Questionar-se sobre a maternidade compulsória faz dela uma feminista? Você se considera uma?

Eu me considero uma feminista, sim. Se a personagem o é, não importa. Trata-se de uma mulher tentando entender sua vida por um enquadramento que ainda não existe. Não através da retórica do feminismo ou do marxismo ou de quaisquer outras estruturas intelectuais. Mas é claro que ela nem estaria na posição de poder se perguntar se quer ou não filhos se não fosse pelo feminismo e pelo trabalho de gerações de feministas.

A personagem chora todo dia. Poderia ser descrita como uma pessoa com quadro depressivo?

Não penso na vida dela dessa forma, embora a depressão nela seja um dado. Sua depressão vem de uma sensação de inércia: não saber o que fazer é pior do que apenas escolher um caminho e descer e abraçar todas as coisas terríveis e maravilhosas que vêm com qualquer escolha. Mas ela está presa, parada. E carrega a depressão da mãe e da avó. O livro é muito sobre o que herdamos e, como neta de sobreviventes do Holocausto, seu sangue tem uma tristeza que vai além de suas circunstâncias pessoais.

Ela se sentiu abandonada pela mãe. De alguma forma isso a influencia a não querer um bebê?

Eu não acho que decidir não ter um filho é sinal de uma perturbação ou uma patologia. É uma escolha tão positiva quanto a de ter um filho. Não há algo de errado nela; isso nunca me ocorre quando vejo mulheres sem filhos.

Por que as mulheres que não querem ser mães não são deixadas em paz, em pleno século XXI?

Acho que sua pergunta anterior mostra por quê: mulheres sem filhos são consideradas danificadas de alguma forma. Acham que foram traumatizadas, ou que falta algo essencial em sua feminilidade ou humanidade.

Como tem sido para você?

Estou tão feliz com a minha vida quanto qualquer um. O que significa, por vezes, estar em paz com as escolhas que me trouxeram até aqui, e, outras vezes, não. Sentiria o mesmo se tivesse filhos. A vida de alguém nunca é uma construção perfeita na qual todas as perguntas são respondidas para sempre. Não acho que há algo que você possa dizer sobre todas as mulheres sem filhos, nem sobre todas com filhos. Nós não dizemos que homens que não são pais são todos iguais de alguma forma fundamental.





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quarta-feira, 20 de março de 2019

Abacate, todos querem


Em forma de creme pode virar uma sobremesa gostosa; pedaçudinho e com ervas frescas, uma entradinha deliciosa; batido e gelado, um sorvete refrescante; em fatias e com ovo, um super recheio para sanduíche. O abacate é um curingão na cozinha, e a lista de receitas com ele, enorme: pratos salgados, sobremesas e até bebidas. Ter uma fruta madura na mão é certeza de algo bem gostoso na mesa. Já que esta é a época em que o abacate está mais carnudo, aproveite para experimentar as mil e uma formas de sabor que a fruta pode ter.

A aposta da DoJour, marca especializada em pratos leves, são os toastslow carb, feitos com uma mistura de legumes e grãos, recheados com pasta de abacate, ovo caipira e brotos. O creme leva cebola-roxa, limão, azeite de ervas e páprica picante, e foi uma inspiração do chef Robson Silva depois de uma viagem à Califórnia.
— Passei um verão lá, onde eles usam muito abacate por conta da influência da culinária mexicana. Voltei com vontade de criar em cima do ingrediente, que é um super aliado em receitas saudáveis — conta o chef, que está sempre de olho em novidades para ampliar o leque de sabores de suas saladas, seus petiscos leves e doces fit.
Por ser bem gorduroso e, até mesmo bem maduro, não ter um sabor forte ou adocicado, o abacate é uma fruta que vai muito bem com folhas, pães, peixes e harmoniza com temperos como ervas, cítricos e sal. No Café do Gula, que fica no Gula Gula da Gávea, vem em versão cremosa no rol das entradas: a torrada de abacate no pão orgânico salpicada com gersal para dar um croc é uma maneira ótima para começar o dia ou para o lanche da tarde. A chef Carolina Figueiredo serve também uma opção que combina um creme da fruta com pesto de tomate.

— O abacate é uma das melhores frutas para a cozinha, na minha opinião. É superversátil, já que funciona bem tanto nas preparações doces como nas salgadas. E se for falar em funções para a saúde, ele ainda é um dos melhores para reduzir o colesterol ruim, o temido LDL — conta Carolina.

Durante a infância, a chef Marina Mattos morou em uma casa que tinha um abacateiro no jardim que vivia carregado. Era uma época em que tudo levava a fruta: tortas, cremes, geladinhos.
— Até água com abacate nós tomávamos. Mas foi só aos 18 anos, em uma guacamole com pico-de-gallo (saladinha mexicana feita com pedacinhos de tomate, cebola, cebolinha e folhas de coentro) que fiquei viciada. Hoje, sirvo várias opções com a fruta no meu catering. A vieira é sempre elogiada, e vem com um creme de abacate feito com óleo de gergelim torrado, queijo de cabra, coentro, limão-siciliano, pimenta-do-reino e flor de sal. Acho que a fruta se espalhou muito por conta da modinha do avocado, um tipo de abacate mernorzinho e menos calórico, que invadiu os supermercados. E também por causa das casas de comida peruana que se espalharam pela cidade — conta Marina, que comanda um bufê que leva o seu nome.
Zazá Piereck colocou um creme de abacate com cara de sobremesa da casa da avó no cardápio do seu café no Rio Design Leblon. Ele é adoçado com agave e leva chips de coco por cima.

— Poucas frutas vão tão bem em receitas tão diferentes. Ele encara bem uma sobremesa ou um prato principal. Ainda tem uma consistência cremosa e, gelado, é muito refrescante — comenta Zazá.
Os restaurantes japas também adoram a fruta. Um naco de abacate faz as vezes do peixe cru servido no Yasai, sushi plant based em Ipanema. Ele vem combinado com cogumelo e arroz tingido com beterraba. O legal é que a textura cremosa do abacate chega a lembrar a de peixes mais gordurosos, como o salmão e o atum gordo. Já no Gurumê, a taça com cubos de salmão fresco com creme de abacate no estilo guacamole é uma das entradas mais pedidas da temporada. O Sushimar serve os pokes com a fruta fresca, ainda não muito madura, para ter consistência mais durinha. Uma combinação legal é a que leva atum, edamame e sementes de gergelim sobre uma camada de gohan. Com molho de laranja fica uma delícia.
Para quem preferir fazer em casa, aqui ao lado ensinamos três receitas fáceis e que fazem bonito à mesa.


RECEITAS COM ABACATE

Salada de abacate com ovo cozido e couve-de-bruxelas
Ingredientes: 1/2 brócolis; 2 abacates; 3 ovos; 8 couves-de-bruxelas; 1 dente de alho; queijo grana padano para ralar; azeite.
Modo de fazer: Cozinhe as couves-de-bruxelas e o brócolis até ficarem al dente , cerca de 8 minutos em água fervente são suficientes. Cozinhe os ovos por 5 minutos, deixe esfriar e descasque. Bata meio abacate com alho, azeite, raspas de grana padano e sal, até virar um creme. Corte os abacates frescos em lascas. Coloque os legumes, os ovos cortados em quatro e os abacates em pedaços em um bowl. Despeje o molho por cima e misture bem. Se quiser, pode colocar mais azeite na hora de servir

Creme de abacate com limão
Ingredientes: 1 abacate maduro e macio; suco de 1/2 limão tahiti ou siciliano ou 1 limão cravo; açúcar, preferencialmente demerara.
Modo de fazer: Corte o abacate ao meio e retire o caroço. Com o auxílio de uma colher, tire a polpa da casca e coloque em um prato. Com um garfo, amasse o abacate, deixando alguns pedaços maiores. Se preferir uma versão cremosa, bata no liquidificador. Junte o suco de limão espremido na hora e adicione o açúcar (quantidade sugerida: 1 colher de sopa). Dica: também pode ser usado mel ou adoçante.
Ingredientes: 1 abacate maduro; ½ xícara (chá) de creme de leite fresco; suco de ½ limão; ¼ de xícara (chá) de açúcar.
Modo de fazer: Corte o abacate em pedaços de 2 cm. Transfira para uma assadeira e leve ao congelador. Deixe no freezer por pelo menos 3 horas antes de usar (o melhor é congelar já na noite anterior). Em seguida, retire o abacate do congelador e deixe em temperatura ambiente por 5 minutos antes de bater. Deixe a fruta bater, até ir virando uma pasta, e coloque o suco de limão, o açúcar e o creme de leite. Continue batendo até ficar bem cremoso, com a consistência de sorvete. Pode demorar, mas insista. Sirva a seguir. Uma dica para quem quiser preparar o sorvete até mesmo fora da época da fruta é congelar os pedaços em um saco hermético. Ele fica fresco por por até 3 meses.

Sorvete de abacate é fácil de fazer Foto: Shutterstock