Essenciais para a nossa vida,
elas podem ser encontradas num delicioso morango ou numa crocante castanha. E
também numa cápsula colorida. As vitaminas estão
entre os principais nutrientes consumidos sob a forma de suplementos, mas
especialistas alertam: a qualidade da absorção de vitaminas em cápsulas não se
compara à obtida por meio dos alimentos in natura. Para quem tem identificada a
deficiência de algum nutriente ou barreiras para absorver a quantidade
necessária por meio da alimentação, os comprimidos são um trunfo. Mas, sem
necessidade, a suplementação tende a aumentar o risco de doenças
cardiovasculares e cânceres.
No Brasil, 54% dos lares têm
pelo menos um indivíduo que consome suplementos, segundo uma pesquisa
recém-divulgada pela ssociação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins
Especiais e Congêneres (Abiad). Nessas casas, as vitaminas representam a maior
fatia de consumo, com 48%, seguidas por minerais e suplementos extraídos de
plantas, com 22% e 19%, respectivamente.
Excesso pode ser tóxico
Para discutir o impacto desse
comportamento no corpo e dissecar mitos e verdades relacionados ao tema, as
nutricionistas Ana Luísa Faller e Annie Bello participaram da última edição dos
Encontros O GLOBO Saúde e Bem-estar. Coordenado pelo cardiologista Cláudio
Domênico, o evento teve mediação do jornalista William Helal Filho, do GLOBO.
Autoras do livro “Nutrição e
destoxificação”, Ana e Annie destacaram que nem sempre mais é melhor. O excesso
de nutrientes no organismo pode ser tóxico. E, por vezes, as mesmas vitaminas
que trazem benefícios quando consumidas em forma de alimentos podem provocar
danos quando em forma de suplementos.
— Ingerir betacaroteno de
frutas e legumes diminui o risco de doenças cardiovasculares, segundo estudos.
Mas, quando esse nutriente é suplementado, pode aumentar o risco de câncer de
pulmão. Outro exemplo é a vitamina E, encontrada em castanhas e sementes. Quem
ingere naturalmente tem menor risco de doença coronariana, mas, como
suplemento, pode aumentar o risco de derrame — afirmou Annie Bello, que é
professora de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e
pesquisadora do Instituto Nacional de Cardiologia.
Ela explicou que o corpo
humano precisa de vitaminas em quantidades bem pequenas. Diferentemente dos
carboidratos e das proteínas, que devem ser consumidos em gramas, as vitaminas
são ingeridas em miligramas. Isto deveria tornar mais fácil a tarefa de
consumi-las em quantidade suficiente, mas é cada vez mais comum as pessoas
basearem sua dieta em alimentos como pães, biscoitos e massas, que não fornecem
nenhuma das 13 vitaminas necessárias.
Uma laranja, por exemplo, tem
cerca de 70 miligramas de vitamina C — o que já é mais do que o dobro da
ingestão diária recomendada desse nutriente, que é de 45 miligramas.
— Temos que comer comida de
verdade, que não tem rótulo, que estraga. Uma dieta de alimentos
industrializados, apenas enriquecida com vitaminas, é um erro — disse Annie,
que lançará no segundo semestre deste ano o livro “Estilo de vida orgânico”.
— Muitas vezes, tomar um
suplemento só serve para a pessoa fazer um xixi mais caro — disse ele,
arrancando risos da plateia no encontro.
Professora de Nutrição da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ana Luísa Faller destacou que é
preciso cuidado também com os alimentos ditos “funcionais”. Para carregar esse
título, o alimento tem que passar por uma série de estudos que comprovem sua
capacidade de produzir um determinado efeito fisiológico, o que não ocorre com
a maioria dos ingredientes que, no boca a boca, são classificados assim.
Um exemplo disso, diz a
nutricionista, é a goji berry, frutinha asiática que supostamente ajuda a
emagrecer, reduz celulites e teria uma série de outros efeitos positivos. Para
Ana Luísa, as pessoas deveriam desconfiar de qualquer alimento que tenha uma
lista muito extensa de benefícios.
— Nenhum alimento é bom para
tudo. A goji berry é muito popular, mas não há estudos comprovando seus
benefícios — destacou a especialista.
A profissional também
explicou que, em geral, não vale a pena comprar suplementos prontos, vendidos
de forma padronizada. Cada pessoa terá a necessidade de uma composição
diferente para satisfazer suas eventuais carências nutricionais. Além disso,
alguns suplementos prontos têm substâncias que não combinam: uma atrapalha a
absorção da outra.
Os suplementos vitamínicos e
minerais são considerados de baixo risco pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) desde 2010. Mas é consenso que não se deve tomar esses
produtos sem a orientação de um nutricionista, seja para evitar desperdício de
dinheiro ou para não prejudicar a saúde.
Betacaroteno, vitamina E, ácido fólico e selênio estão entre os
suplementos citados na pesquisa e que podem trazer riscos -
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Conselhos de especialistas
Não
abandone a gordura: No nosso corpo, a gordura funciona
como veículo para as vitaminas. Por isso, só conseguimos absorvê-las
corretamente com a ajuda da gordura. Quem troca o leite integral pelo
desnatado, por exemplo, não absorve a vitamina D adequadamente.
Jante,
não lanche: Precisamos ingerir de cinco a nove
porções de frutas, hortaliças, legumes e verduras todo dia. Dificilmente
conseguiremos consumir isso só no café da manhã e no almoço. Logo, é importante
também jantar. Um simples pão com peito de peru não terá as vitaminas
necessárias.
Esqueça
produtos que têm ingredientes demais: Se, no
rótulo de um iogurte, por exemplo, há uma lista extensa com mais de cinco
ingredientes, e alguns deles são quase impronunciáveis, é provável que o corpo
também não os reconheça como comida.
Evite
‘light’ e coma peixe: Produtos tipo “light” são piores que
os integrais no quesito absorção de vitaminas. Já peixes como sardinha e atum
têm muito ômega 3, mais até do que salmão. A indicação é comer de duas a três
porções por semana.
Não
exclua grupos: Para diminuir o risco de carência de
nutrientes, não é aconselhável excluir grandes grupos alimentares, como carnes
ou frutas. Quem fizer isso deve consultar um nutricionista para fazer uma
eventual suplementação.
Vitamina
em excesso não é bom: Quem toma suplementos de que não
precisa pode provocar danos ao corpo. Alguns minerais e vitaminas podem ser
tóxicos quando consumidos em excesso. Antes de consumir suplementos, procure
orientação de médicos ou nutricionistas.