quarta-feira, 22 de maio de 2019

Dois meses da morte do empresário



Ao todo, Erika  faz as contas, foram 14 anos ao lado do empresário Artur Vinícius : três de namoro e 11 casamento, com direito a um recasamento. Tiveram uma filha, hoje com 3 anos, e outra está a caminho. Dois meses depois da morte do marido, atropelado por um ônibus quando treinava de bicicleta na Barra, a advogada segue juntando os cacos, um dia pior, no outro, nem tanto. “O luto é uma coisa muito instável, não é linear”, diz. Advogada, ela está tendo que aprender o trabalho do marido para assumir os negócios e manter o sustento da família. Com sete meses e meio de gravidez, desenvolveu diabete gestacional por estresse e somente há duas semanas conseguiu voltar a pensar na chegada da filha, Maria Clara — nome que o marido gostava. “Quando aconteceu o acidente, eu esqueci até a gravidez. Teve dia em que eu levantava da cama 20h para trocar o pijama e voltar a dormir...”, conta.
Neste domingo, o acidente completou dois meses. Como vocês estão superando a tragédia?
Com muita oração e resiliência... Estamos indo, um dia de cada vez.
Você tem uma filha de 3 anos, está grávida... Como está lidando com a perda nessa situação?
Essa é a pior parte. Nunca menti para minha filha. Perdi meu pai há nove anos, e já tinha conversado sobre a morte com ela. Ela já tinha uma noção. Quando contei que o pai tinha morrido, virado uma estrelinha e ido ficar com o avô, ela entrou em desespero. Depois, se calou. Como se tivesse guardado para si mesma. O pediatra me orientou a não forçar. Mas, há algumas semanas, ela começou a falar mais sobre isso. Um dia desses ela viu uma foto dele no porta-retrato e começou a chorar. Foi uma choradeira só, eu, minha sogra, ela... Ela diz que está com saudade do pai.
Você está acompanhando o inquérito? O que achou da decisão?
Sou advogada. Não sou da área criminal, mas estou acompanhando. Eu acho que caberia dolo eventual, pois houve negligência, imperícia e imprudência. O motorista só parou porque meu marido estava sob a roda do ônibus. Por outro lado, não desejo acabar com a vida desse senhor. Acho que ele já vai carregar para o resto da vida o fardo de ter matado um pai de família no auge de seus 41 anos. Também acho que o poder público precisa fazer algo para melhorar a segurança dos ciclistas na cidade.
Você pretende acionar a empresa de ônibus Três Amigos?
Ainda não pensei sobre isso. A empresa nunca entrou em contato. Ninguém nunca me telefonou ou mandou mensagem.
Você já está trabalhando?
Praticamente desde o dia seguinte. Tive que acumular o trabalho dele, tentar entender tudo. Ele era o provedor da casa.
Você está fazendo algum tipo de terapia?
Sempre fiz. Mas não estou conseguindo tempo para ir à terapia. Mas pretendo voltar. Vai ser bom para mim e para minha filha. Tenho contado com o apoio de amigos e da minha família. Minha mãe e minha irmã se revezam para dormir comigo. Também tenho tirado forças de mensagens e orações que as pessoas me enviam. Às vezes, a gente pensa que as redes sociais são ruins. Mas para mim não foram. Fiquei muito recolhida, e ali era um lugar onde ia buscar apoio. Muita gente conta histórias semelhantes ou até piores que a minha...
Como está sua casa?
Está tudo como antes. Os porta-retratos estão no mesmo lugar. Não quero criar um assunto velado em casa, mas evito algumas coisas emblemáticas.
Por exemplo?
Meu marido assoviava quando chegava em casa. Meu cunhado também faz isso. Pedi para ele parar, porque minha filha poderia pensar que o pai estivesse voltando. Ainda não tive coragem de mexer na parte do armário que era dele. Está lá, tudo intacto. E não consigo ir à parte da piscina, à sauna, a lugares que ele gostava muito na nossa casa. Ao mesmo tempo, minha casa é meu porto seguro, onde me sinto acolhida.


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