A maior aversão ao risco em escala global e o temor de piora nas contas públicas
pressionam os negócios no mercado de câmbio e na Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa) nesta quinta-feira. A moeda americana opera cotada a R$ 3,692 na
compra e a R$ 3,694 na venda, alta de 0,43% ante o real — na máxima, a divisa
chegou a R$ 3,723. Já o índice Ibovespa cai 0,54%, aos 49.420 pontos, puxado
pelo desempenho negativo das ações da Petrobras e dos bancos.
Do ponto de vista externo, contribui para essa valorização do dólar a
expectativa de uma nova alta nos juros americanos no curto prazo, de acordo com
sinalização de integrantes do Federal Reserve (Fed, bc americano). O petróleo
também opera em terreno negativo. O recuo no preço do óleo tende a pressionar a
moeda de países produtores.
No exterior, a moeda americana está em alta. O Dollar Spot Index,
calculado pela Bloomberg, registra leve avanço de 0,08%.
Internamente, os investidores receberam de forma negativa a piora da
expectativa do resultado das contas públicas. O Ministério da Fazenda anunciou
na quarta-feira, após o fechamento dos mercados, que o déficit primário deve
ficar equivalente a 1,55% do PIB, ou R$ 96,65 bilhões. A atuação do Banco
Central (BC) no mercado de câmbio, com a oferta de contratos de "swap
cambial reverso", que possuem o efeito de uma compra de moeda no mercado
futuro, também influenciam os negócios.
— Isso pesa no mercado. A partir do momento que ele assume um déficit
dessa magnitude, o governo deixa claro que não está fazendo esforço nenhum para
resolver seu principal problema — afirmou João Pedro Brugger, da Leme
Investimento. — Além disso, o cenário político deve continuar dando o tom, pois
a semana que vem é decisiva. Tem a convenção do PMDB e a continuidade dos
trabalhos da comissão de impeachment.
Do ponto de vista político, os investidores estão de olho nos
desdobramentos da operação Lava Jato, nas negociações do governo para tentar
manter o PMDB como aliado e nas discussões em relação ao processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff.
A divulgação, na quarta-feira de uma lista com o nome de mais de 200
políticos que podem ter recebido doações da Odebrecht contribuiu para a piora
do humor, embora não esteja claro se as operações são ilegais ou não. "Com
base nesse contexto no reforço pelo Banco Central brasileiro no esquema de
leilões, o dólar deve apresentar nova sessão de alta", avaliou, em
relatório a clientes, Ricardo Gomes da Silva Filho, superintendente da
Correparti Corretora de Câmbio.