Pela primeira vez na história, a União Europeia (UE)
anunciou nesta terça-feira o fechamento das suas fronteiras por 30 dias, numa
tentativa de conter o avanço do novo coronavírus no continente, considerado o
novo epicentro da pandemia. Todas as viagens entre os 27 países do bloco estão
suspensas, assim como a entrada de não residentes, com "pequenas
exceções".
A medida foi anunciada após uma videoconferência de cerca de
três horas entre os líderes do bloco, que concordaram em adotar uma decisão
coordenada para restringir viagens não essenciais. Na semana passada, diversos
países europeus já haviam anunciado, por conta própria, o fechamento das
fronteiras como forma de conter a disseminação da doença.
Durante a videoconferência, os líderes, que se reunirão
novamente na próxima semana, também concordaram em coordenar o retorno dos
europeus bloqueados no estrageiro, anunciou a chanceler federal alemã, Angela
Merkel.
Segundo a presidente
da Comissão Européia, Ursula von der Leyen, a Irlanda não aplicará essas
restrições, uma vez que possui uma área de passagem livre comum com o Reino
Unido, um país que deixou a UE em janeiro e que "não planeja implementar
restrições nas fronteiras externas".
Na segunda-feira, Von der Leyen considerou que o fechamento
só seria "eficaz" se fosse aplicado pelos 27 países da UE, assim como
pela Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, que pertencem ao Espaço
Schengen. Em entrevista coletiva nesta terça-feira, Von der Leyen disse que
agora caberá aos países europeus implementar o fechamento para cidadãos de
países terceiros.
— O inimigo é o vírus e agora temos que fazer o possível
para proteger nosso povo e proteger nossas economias — disse. — Estamos prontos
para fazer tudo o que for necessário. Não hesitaremos em tomar medidas
adicionais à medida que a situação evoluir.
Na semana passada, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
anunciou que a Europa é o novo epicentro da epidemia. Entre os 10 países que
mais registram infectados, seis estão no continente: Itália, Espanha, Alemanha,
França, Suíça e Reino Unido.
Mais cedo, o encarregado de Europa na OMS pediu as
"medidas mais ousadas possíveis" para conter a pandemia e países como
França, Itália e Espanha colocaram policiais nas ruas para implementar as
medidas de confinamento doméstico.
— Todos os países,
sem exceção, devem tomar as medidas mais ousadas possíveis para interromper ou
conter a ameaça do vírus. Cada país é
diferente, por isso as respostas devem
ser ajustadas às realidades nacionais — disse Hans Kluge, chefe da seção
europeia da OMS.
Na França, o ministro do Interior anunciou que o governo
mobilizou 100 mil policiais para garantir a ordem de confinamento determinada
pelo presidente Emmanuel Macron um dia antes, com o objetivo de conter o surto
de coronavírus. Além disso, postos de controle fixos serão instalados em todo o
país. As pessoas só podem sair de casa para o estritamente necessário, o que
inclui ir a mercados, farmácias, ao médico ou ao trabalho, se não tiveram
condições de trabalhar em casa.
A Itália, que também tomou medidas drásticas de restrição e
circulação após mais de 27 mil casos confirmados da doença e 2.158 mortes,
anunciou nesta terça-feira que os italianos precisarão confirmar que não estão
em quarentena obrigatória para sair às ruas. Com isso, terão que provar que não
testaram positivo para o vírus e que não oferecem risco para a saúde pública.
Na Espanha, onde os 47 milhões de habitantes do país estão
sob uma interdição parcial desde a noite de sábado, mais de 1 mil soldados
foram mobilizados em 14 cidades para ajudar a cumprir a ordem, orientando as
pessoas a irem para casa a menos que tenham um bom motivo para estar na rua. O
país registrou, nas últimas 24 horas, 183 novas mortes.